Um hábito cultural que virou símbolo do Rio Grande do Sul: o vinho. Trazido como elemento de identidade por imigrações portuguesas, alemãs e, principalmente italiana, o vinho no Rio Grande do Sul tem uma linda história, repleta de superação. Desde meados de 1800, foram inúmeras tentativas, inúmeras variedades, jeitos de produzir. O vinho não surgia para comercializar, sim para compor a mesa, a alimentação. Segundo estudos antropológicos, o cultivo da videira, elaborar e consumir o vinho com a família era uma das formas do imigrante italiano não esquecer das suas origens, de quem ele era e seus valores familiares. Atualmente, além da belíssima Serra Gaúcha, vinhedos se espalharam pelos diversos recantos do estado, trazendo muita diversidade, aliado a alta tecnologia e busca permanente da qualidade. Conheça um pouco das principais regiões, bem como de um curioso local, a Ilha dos Marinheiros.
- Serra Gaúcha – o berço da imigração italiana, onde o vinho é uma referência. Os entornos de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, convidam não somente a provar muitos tipos de vinhos, mas também apreciar paisagens incríveis. As curvas do Rio das Antas, aliando vinhedos e mata nativa, merecem ser apreciadas. A uva Merlot, com suas notas de especiarias, ervas, frutas e um leve toque de torrefação têm sido o grande diferencial. E outra estrela é o vinho espumante. Seja pelo método Tradicional, Charmat ou Moscatel, doces ou brut, têm encantado a imprensa internacional e se aproximado a cada dia dos consumidores. Subindo a serra, em direção a Vacaria, começam a surgir os vinhedos de altitude, muito promissores, principalmente com a uva Pinot Noir. Há vinícolas enormes, familiares, porões, enfim, para todos os gostos. Outro destaque da serra é a arquitetura, que convida a belíssimos passeios: vinícolas muito bonitas,sejam restauradas ou modernas, como Salvador e Luiz Argenta (Flores da Cunha), além da Dom Guerino (Alto Feliz), Alma Única (Vale dos Vinhedos) encantam os apreciadores desta arte.
- Serra do Sudeste – uma região tão importante na história dos gaúchos têm agora feito a grande diferença no presente dos vinhos brasileiros. As antigas cidades farroupilhas como Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, além do grande patrimônio arquitetônico, aliam clima e solo ideais para vinhos de altíssima categoria. Os projetos iniciados no final dos ano 90 pela família Angheben, seguido por outras importantes empresas como Lídio Carraro, Marson, Terrasul e Casa Valduga, tem trazido aos apreciadores vinhos de uvas diferentes, como as italianas Teroldego, Barbera, Ancelotta, além de tradicionais Pinot Noir, Cabernet Sauvignon.Vinhos concentrados, de boa graduação alcoólica – em torno de 13ºGL – com aromas muito frutados e ótimo corpo são parcerias perfeitas para a gastronomia gaúcha. Por serem projetos muito novos, a região apenas possui vinhedos, sendo os vinhos facilmente encontrados em lojas especializadas.
- Campanha Gaúcha – Uma paisagem única, que alia gado, aves nativas, vinhedos e a ampla vista do pampa. O solo que mescla areia e argila, o período de seca no verão aliado a ao calor do dia e frio das noites, tem despertado o potencial para inúmeros tipos de uvas. Nas brancas, todo o aroma de rosas da Gewurztraminer e o cítrico da Sauvignon Blanc são possíveis de encontrar em cada garrafa, se aprimorando a cada colheita. Nas tintas, desde a tradicional Tannat, ícone dos vizinhos uruguaios, Cabernet Sauvignon até castas portuguesas, como Touriga Nacional, têm sido as grandes estrelas. A forte identidade com a cultura regional, em marcas como “Rastros do Pampa” e “Província de São Pedro“, bem como os conceitos modernos da “Dunamis“, convidam a provar os vinhos junto aos melhores cortes de carnes. As cidades produtoras são Itaqui, Uruguaiana, Alegrete, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Bagé, Candiota e Rosário do Sul. Há inúmeras vinícolas abertas a visitação, como Cordilheira de Santana, em Livramento, onde se pode degustar na origem seu excelente Chardonnay.
- Ilha dos Marinheiros, Rio Grande – de baixíssima e artesanal produção, a Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande, é um dos pontos de produção mais curiosos e antigos de elaboração de vinho no Brasil. De colonização portuguesa, açoriana, trouxe em sua essência a cultura da videira, porém elaborando vinhos fortificados (com adição de álcool). Assim como Porto, Madeira, Marsala, este tipo de elaboração é típica de zonas litorâneas, devido a que os vinhos deveriam resistir a longas viagens pelo mar sem boas condições de conservação, sendo alimento da tripulação. A tradicional “jurupiga/jeropiga” mescla mosto de uvas e álcool vínico, fazendo surgir um vinho licoroso, que lembra remotamente seus “primos” da ilha da Madeira. É opção de aperitivo ou sobremesa, também utilizado na culinária, somente sendo encontrado na cidade de Rio Grande.
Publicado originalmente em http://vinhoearte.blogspot.com.br/2012/09/vinhos-do-rio-grande-do-sul.html