SINDICATO E CULTURA. A experiência do SindBancários de Porto Alegre
Mauro Salles – Presidente do Sindbancários
A categoria dos Bancários, organizadaem torno do SindBancários, tem uma tradição de luta, realizações e inserção na comunidade gaúcha.
Tem uma cultura de luta e protagonismo, construído na prática, em torno das lutas travadas no decorrer dos seus 79 anos.
Greve na ditadura, greve no fim da ditadura. A grande greve de 79. O período de ascenso nos anos de1985 a1991; o movimento pela criação do Meridional; entre outras lutas. Participamos ativamente pela democratização do país.
Também fomos forjados na resistência ao tsunami neoliberal, das privatizações e demissões. Do fora Collor, da defesa do SUS, da previdência pública, do direito à participação popular.
A cultura está inserida na ação do SindBancários há bastante tempo. A construção de um projeto cultural está a ocorrer com os caminhos sendo descobertos ao caminhar, com avanços, recuos, adaptações, aperfeiçoamentos, aprendizados.
Mas com a clareza de que é essencial incorporar essa temática como prioritária em nossas ações e estratégias.
É um processo onde uma iniciativa leva à outra, criando consistência no decorrer da caminhada.
Poderíamos dizer que o marco desse processo foi a revitalização da sede do Sindicato, a Casa dos Bancários.
No debate sobre o que fazer com os “escombros” da sede histórica da rua General Câmara, definimos que realizaríamos a revitalização do prédio. O restauro garantiu a preservação das características históricas, modernizando o espaço.
No térreo destinamos uma área para um cinema. Começava a constituição de um espaço cultural, mesmo antes de ficar pronto, ainda em sonho, em anúncio.
O prédio foi inaugurado em agosto de 2004. Mas não queríamos que fosse apenas um espaço de tijolo e concreto. O desafio era tornar viva a sede, preenchendo sua estrutura com atividades, pessoas, idéias, sonhos.
Como uma coisa leva a outra, para além dos1.800 metros quadrados, buscamos desenvolver atividades para o espaço.
Desde sua inauguração a Casa dos Bancários abrigou debates, palestras, assembleias, comando de greve, ciclos de cinema, confraternização, música, oficinas de cinema, teatro, literatura, mostras artísticas. O espaço se consolida, constrói visibilidade.
E colocou um grande desafio: construir política cultural transformadora que crie meios e condições para a educação do fazer e que possibilite a prática cultural (música, literatura, artes visuais, etc.) como principio orientador das formações.
Percebendo ser este o melhor passo para se conhecer essas linguagens e seus códigos, e a melhor chance de se alterar o padrão de relacionamento com as artes.
Ou seja, sair de uma fruição apenas de entretenimento (lazer) para uma prática na qual se desdobra um processo de desenvolvimento pessoal.
Buscamos organizar e dar coerência para as ações culturais de nosso sindicato.
Compreendemos que um projeto cultural pressupõe um processo contínuo e dinâmico onde o papel do Sindicato é estimular a criatividade, potencializar desejos, criar situações onde os trabalhadores possam participar e criar.
O protagonismo deve ser garantido, sem imposições, com gente em movimento, criando uma corrente que, com inquietude, questione o instituído. Mas para indagar é preciso conhecer, formar gosto, ganhar competência para integrar signos e códigos.
Precisamos fomentar o processo de interpretação/reinterpretação cultural. Mas não são somente interrogações o que nos move. Precisamos exclamar, afirmar nossas identidades, nossos valores.
Em lugar de determinar (ou impor) ações e condutas, devemos estimular a criatividade, potencializando desejos e criando situações de encantamento social.
O desafio é permanente, sempre buscando garantir o protagonismo da categoria, como um processo de envolvimento, construído coletivamente pelas pessoas, fazendo, lutando e sonhando, pois essa é a nossa cultura